terça-feira, 15 de março de 2011

3 MULHERES, 3 MÉDICAS, 3 EXPRESSÕES DO MAIS PURO AMOR!

Foi no tormento do nosso sofrimento, que descobrimos maravilhosas manifestações de amor e solidariedade! Como é belo sentir que, em torno de nós, existem tantas pessoas com enormes mananciais de desprendimento e dedicação ao próximo! Oh, como é bom sentir o calor da solidariedade, quando você enfrenta a morte e lhe parece que o mundo desmorona e você com ele!
Doutora Graça França é uma mulher extraordinária, médica-anestesista, uma das melhores de Natal, que não tem hora para trabalhar.  O seu horário de trabalho quem determina são as chamadas dos colegas cirurgiões... O avanço dos anos não enfraqueceu a pujança da sua energia criativa! Não se cansa de estudar e pesquisar...Foi enfermeira, passou pra médica, encontrou-se na anestesia, animou-se com a acupuntura e estuda a dor... Foi nesses estudos e cursos que conheceu Nina, outra médica que não se cansava de estudar e fazer cursos. Chamava Nina de “minha bonequinha russa”.
Bastava sua presença, entre nós, para levantar nossa moral. Graça França, extraordinária com sua dedicação animadora, com seus afagos de esperança, com seu coração de ternura, com sua solidariedade que nem a tragédia com o filho Junior conseguiu desviar. Foi a primeira a me consolar e me animar, minutos após a morte de Nina... Uma mulher de amor, um coração imensurável, um exemplo de grandeza espiritual, de extraordinário valor humano!
Doutora Arinez Monte, médica-oftalmologista, travou amizade com Nina no curso de acupuntura. De uma Fé inabalável, utilizou-se da Oração para animar o tratamento da amiga que queria ver curada!  Cena marcante, que nunca esquecerei: no último mês de vida de  Nina, chegou no nosso apartamento, em Natal, ajoelhou-se próxima à amiga enferma e ao meu lado e rezamos um terço inteiro!  Livros de auto-ajuda e bíblias não nos faltavam... Lindas mensagens nos enviou pela INTERNET....
Domicina Monteiro, neurologista, que deixou o consultório em Natal para se dedicar às missões da Organização Mundial de Saúde nos países da Asia e Africa.  Uma seridoense, calma, pacífica, mas de dedicação amorosa nunca vista! Corria ao nosso encontro, para permanecer conosco onde Nina fazia exames ou estivesse internada. Sempre nos convidava ao seu apartamento em Natal, para uma comidas com alimentos vem funcionais, que sabia serem as preferências de Nina.
Citei apenas 3 mulheres, 3 medicas, 3 expressões vivas de amor, sintetizando uma multidão de gente que, com o seu amor e solidariedade , nos tornaram mais leves no momento mais tormentosos das nossas vidas!
Obrigado, Graça França! Obrigado, Arinez Monte! Obrigado, Domicina! Vale a pena viver quando sentimos que temos amigas como vocês!  

quinta-feira, 10 de março de 2011

DEPOIS DO QUASE DESMORONAMENTO, AGIGANTO-ME NA MINHA FRAQUEZA!

Em Moscou, na antiga União Soviética, pra onde fui estudar medicina, já no primeiro ano, conheci Nina. Ela estudava, também, medicina... Já estava no 4* ano. Nunca tinha namorado... Conhecemos-nos num trem, que levava estudantes para trabalhar no interior da URSS.  Uma mocinha tímida, que não largava um livro e pouco olhava pra nós, os estudantes estrangeiros. De baixa estatura, achava que não combinava com os meus 180 cm.

Nina, que anos depois se tornaria minha mulher e mãe de nossos dois filhos, Vassili e Andrei, era filha do coronel Barinov, professor da Escola Militar da KGB, o poderoso serviço de inteligência da potencia nuclear  chamada União das Repúblicas Socialistas Soviéticas... Quando nos certificamos que nos amávamos pra valer, enfrentamos tudo: naquela época filha de militar soviético não podia nem sonhar em se aproximar  de um estrangeiro!

Fomos a luta e vencemos... Depois de concluir meus estudos, combinei com Nina, que ela ficaria com o filho Vassili, em Moscou, enquanto que eu voltaria pro Brasil pra sondar as condições de vida e trabalho  em minha pátria, que se arrastava pelo caminho doloroso de saída da ditadura militar e se firmava no estado democrático de direito...

Mas, em aqui chegando, fui envolvido pela política. Fui eleito prefeito de Janduis , em 1983, e passei 6 anos governando o município... Voltei pra Moscou, em 1989... Fui fazer doutorado em Psiquiatria. Mas só fiz o primeiro ano...

Nina , em 1991, já mãe de um segundo filho, Andrei, diante das mudanças na URSS, resolveu vir morar comigo, em Natal, Caicó, Janduis... Revalidou o diploma de médico. Rapidamente, dominou o português. Habituou-se ao sertão nordestino! Passou a amar o nosso povo... Nunca reclamava de nada. Trabalhava incansavelmente, não desperdiçava o dinheiro que ganhava... Era de uma simplicidade extraordinária, mas se vestia com elegância, preservando o seu bom gosto e o seu estilo próprio de viver... Era rigorosa consigo mesmo e não tolerava aqueles conselhos sem sentido dados por pessoas que de nada entendia.

Como a maioria das mulheres russas da época, era firme e decidida, fiel e cheia de ternura; fazia a opção primeiramente por aquilo que queria, mas nunca deixou de pedir minha opinião, mesmo que já soubesse o que iria fazer. Gostava de me comprometer nos seus projetos... Era de uma coragem extraordinária. Grávida de 8 meses, quando a polícia militar invadiu Janduis, apontando metralhadoras e fuzis para mim, cobriu-me com o seu corpo, transformado em escudo...

Gostava de viver e fazia de tudo pra não adoecer. Alimentação saudável, caminhadas, ioga, pilates, academia, natação, praia, jardinagem... Durante 6 anos, enfrentou com galhardia o câncer de mama, que depois foi para o fígado e atingiu o cérebro... Nunca parou de trabalhar... Só o fez 15 dias antes de morrer na UTI da Casa de Saúde São Lucas em Natal!

Foram quase 40 anos de vida entre Moscou, Natal, Caicó e Janduis. Foi uma mulher que me tornou mais humano ao me sentir forte nas minhas fraquezas; com o seu realismo , tirou-me das ilusões e me ensinou a conviver com realidades diferentes sem renegar as minhas convicções e o meu modo de ser...

Nina ou a doutora Nina Barinova, dizem aqueles que lhe querem bem, não se findou, mas continua naqueles que a amam!